Uma manchete recente correu as redes sociais e surpreendeu internautas: a suposta descoberta de uma jazida de ouro avaliada em R$ 4 trilhões na roça de um ex-vereador, no município de Currais, Sul do Piauí. A notícia, publicada por um site regional, causou alvoroço — mas não resiste a uma análise técnica mais rigorosa.
O alerta veio do cientista da área de mineração Eduardo Gama, que classificou a notícia como “um absurdo sem base geológica”. Em vídeo publicado nas redes, Gama desmonta os principais pontos da matéria e alerta para os riscos da desinformação.
“Não há estudo técnico confiável, não há sondagem, não há dados geológicos, não há descrição de pesquisa. É puro sensacionalismo”, afirma o especialista.


Teores incompatíveis com a realidade
Segundo a reportagem do site, o suposto depósito mineral teria um teor médio de 89,62 gramas de ouro por tonelada de rocha (g/t) — um número extremamente acima dos padrões da mineração mundial.
Para entender o tamanho da discrepância, basta comparar com minas reconhecidas internacionalmente:
Ou seja, o número divulgado em Currais seria mais que o dobro do teor de uma das minas mais produtivas do planeta, o que por si só já acende o alerta vermelho.
Cadê os dados?
Além dos números questionáveis, Eduardo Gama destaca a total ausência de qualquer documentação técnica que dê sustentação à informação. De acordo com ele, a identificação de uma jazida exige um processo rigoroso e bem documentado, que inclui:
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Mapeamento geológico detalhado
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Sondagens profundas
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Análises laboratoriais certificadas
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Modelagem tridimensional da jazida
Nenhum desses elementos foi apresentado.
“É como anunciar que encontrou uma fortuna enterrada no quintal, mas sem mostrar nem a pá usada pra cavar”, ironiza o cientista.
Consequências graves
Gama também chama atenção para os efeitos negativos que esse tipo de notícia sensacionalista pode provocar: especulação de terras, falsas esperanças na população local, exploração política e até golpes financeiros.
“Publicações como essa desinformam, alimentam boatos e enfraquecem a credibilidade do setor mineral”, alerta.
Até o momento, nenhum órgão oficial, como o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) ou a Agência Nacional de Mineração (ANM), se manifestou sobre a veracidade da suposta jazida.
Enquanto isso, especialistas recomendam cautela e criticam a falta de responsabilidade na divulgação de informações que, embora chamativas, carecem de qualquer respaldo técnico.
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