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Manchete de "jazida de ouro bilionária" em Currais (PI) é desmentida por especialista em mineração
Por Henrique Sampaio
Publicado em 06/06/2025 10:25
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Uma manchete recente correu as redes sociais e surpreendeu internautas: a suposta descoberta de uma jazida de ouro avaliada em R$ 4 trilhões na roça de um ex-vereador, no município de Currais, Sul do Piauí. A notícia, publicada por um site regional, causou alvoroço — mas não resiste a uma análise técnica mais rigorosa.

O alerta veio do cientista da área de mineração Eduardo Gama, que classificou a notícia como “um absurdo sem base geológica”. Em vídeo publicado nas redes, Gama desmonta os principais pontos da matéria e alerta para os riscos da desinformação.

“Não há estudo técnico confiável, não há sondagem, não há dados geológicos, não há descrição de pesquisa. É puro sensacionalismo”, afirma o especialista.

Teores incompatíveis com a realidade

Segundo a reportagem do site, o suposto depósito mineral teria um teor médio de 89,62 gramas de ouro por tonelada de rocha (g/t) — um número extremamente acima dos padrões da mineração mundial.

Para entender o tamanho da discrepância, basta comparar com minas reconhecidas internacionalmente:

  • Paracatu (MG) – 0,4 g/t

  • Cuiabá (MG), da AngloGold Ashanti – 8 g/t

  • Fire Creek (EUA) – 44 g/t (uma das mais ricas do mundo)

Ou seja, o número divulgado em Currais seria mais que o dobro do teor de uma das minas mais produtivas do planeta, o que por si só já acende o alerta vermelho.

Cadê os dados?

Além dos números questionáveis, Eduardo Gama destaca a total ausência de qualquer documentação técnica que dê sustentação à informação. De acordo com ele, a identificação de uma jazida exige um processo rigoroso e bem documentado, que inclui:

  • Mapeamento geológico detalhado

  • Sondagens profundas

  • Análises laboratoriais certificadas

  • Modelagem tridimensional da jazida

Nenhum desses elementos foi apresentado.

“É como anunciar que encontrou uma fortuna enterrada no quintal, mas sem mostrar nem a pá usada pra cavar”, ironiza o cientista.

Consequências graves

Gama também chama atenção para os efeitos negativos que esse tipo de notícia sensacionalista pode provocar: especulação de terras, falsas esperanças na população local, exploração política e até golpes financeiros.

“Publicações como essa desinformam, alimentam boatos e enfraquecem a credibilidade do setor mineral”, alerta.

Até o momento, nenhum órgão oficial, como o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) ou a Agência Nacional de Mineração (ANM), se manifestou sobre a veracidade da suposta jazida.

Enquanto isso, especialistas recomendam cautela e criticam a falta de responsabilidade na divulgação de informações que, embora chamativas, carecem de qualquer respaldo técnico.


 

#SertãoVale | Informação com responsabilidade

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